quinta-feira, 5 de maio de 2011

Cidades que invadem rios

Os alertas da natureza têm sido numerosos e violentos nas últimas décadas em todo o mundo. Muita gente, que certamente já esqueceu os efeitos do tsunami, de 2004 e mais recente no Japão, e da tragédia de Nova Orleans, após a passagem do furacão Katrina, enchentes e tempestades no Sul, São Paulo, Rio de Janeiro, ainda se surpreende com a devastação que vem junto com deslizamentos e enxurradas como está acontecendo agora, em várias partes do país.



Todos eles têm em comum o total desrespeito às regras da natureza e refletem a arrogância com que os homens vêm buscando “domá-la” a qualquer custo. Lá, como aqui, onde é mantida a proteção natural, sejam mangues, florestas ou matas que circundam a beira dos rios, as conseqüências foram - e são - mínimas.

Sempre que se tenta descrever o resultado catastrófico de fenômenos absolutamente naturais - como enchentes - ou deslizamentos provocados por desmatamentos desenfreados de encostas, a culpa recai sobre a chuva ou os rios.

Quando o impacto de mortes e perdas econômicas ainda está presente é o momento adequado de se prestar atenção no crescimento insano das cidades onde o principal é deixar cada vez mais espaço para o trânsito e menos para as árvores e as pessoas. Na maioria das zonas urbanas os riachos foram aprisionados em estreitos canais, na maioria das vezes entulhados de lixo, que não resistem a uma chuva mais forte.

As zonas de inundação dos rios são mecanismos naturais destinados a armazenar a água durante as marés altas para prover o fluxo na época de estiagem. Quando elas são aterradas para serem ocupadas por avenidas ou plantações provocam um duplo prejuízo: deixam estas zonas totalmente expostas e dificultam a recuperação do manancial em épocas de estiagem.

A pergunta que não quer calar é: quem invadiu quem? A resposta parece óbvia: os rios já estavam lá muito antes de as cidades nascerem.

Prevenir que isto aconteça é um dos pontos principais da gestão dos recursos hídricos da qual muito se fala mas pouco se conhece. Quando a população decide, nas audiências dos Comitês de Bacia, com que tipo de rio ela quer conviver significa muito mais do que apenas uma discussão técnica. Tem muito a ver com o futuro das cidades, com o incômodo de ter que remover casas e famílias que habitam zonas de risco, seja nas margens ou nos morros, e o aval para os administradores públicos e políticos terem a coragem de tomar decisões impopulares quando já ninguém se lembra das tragédias que aconteceram.

Mas a população também tem que fazer a sua parte no cuidado e preservação lembrando que riacho não é valão. Aos meios de comunicação cabe a tarefa fundamental de ajudar a esclarecer sobre as causas reais de a natureza estar sendo tão inclemente.

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